A camisa

Autor: Paulo Herculano

Obrigado pelo apoio dos meus queridos colegas e amigos do curso de letras.
 Ass: P.H.

A camisa


Despertei.
 Minha visão estava embaçada e os raios de sol iluminavam o quarto. Vestido com uma camisa extremamente macia, e a qual não me pertencia, sentia um agradável e suave cheiro exalar do tecido, que atraído inspirei. Sentado na cama, ouvi uma respiração quase inaudível, virei para o lado, então pude fitar o rosto tão sereno do meu amado.
Acordei-o com um beijo e ele me correspondeu com um sorriso. Levantei para abrir a cortina, logo depois ele se levantou, e antes que pudesse tocar na cortina, beijou meu pescoço envolvendo-me em seus braços como nunca fizera antes, fechei meus olhos e permaneci ali por alguns minutos. Segurou minhas mãos até descermos as escadas e sentarmos para o café, disse que teríamos muito que fazer naquele dia e para não me preocupar, porque prepararia o café da manhã. O encarei com um sorriso irônico e um olhar intrigado, afinal cozinhar não era sua especialidade, mas para minha surpresa tudo estava tão bom, que dessa vez não tive que refazer nada.
Deixamos a louça para depois e fomos para sala, onde os raios de sol daquela manhã invadiam, ele de prontidão sentou-se para tocar o piano vertical que estava todo empoeirado. Cantarolou minha canção preferida e começou a tocar. Ele nunca tocara, mas disse que faria isso por mim, porque sabe que eu amo música, sentei-me no sofá para admirar-lo e até arrisquei acompanhá-lo cantando.
Na tarde ensolarada daquele mesmo dia, mais uma vez ele me surpreendeu, e desta vez disse que íamos visitar a família dele, fiquei receoso, entretanto ele estava tão seguro que não vi o porquê não concordar em ir. Nos arrumamos depressa e entramos no carro, quando eu lembrava que íamos a casa dos pais dele um fio de medo me percorria o corpo, mas aquele casamento perfeito entre o olhar terno e o sorriso apaixonante no rosto dele me impediu de sentir qualquer outra coisa além de estar feliz por estar ali.
Nós chegamos. Na porta da casa quem nos recebeu foi a mãe dele, finalmente a conheci pessoalmente, ela tem um sorriso quase tão lindo quanto o do filho dela, nos entendemos muito bem. Depois conheci seu pai, que estava com uma expressão um pouco séria, porém me recebeu cordialmente. Então fui apresentado também aos irmãos, tios e até o cachorro. Me senti aceito, como nunca havia me sentido.
Ao sair de lá, ele segurou minha mão e me convidou para um passeio, encontramos alguns amigos dele os quais me apresentou com muito animo, continuando nosso passeio, paramos em um banco e conversamos sobre assuntos que nunca havíamos discutido como planos para nós, meus sonhos e minha família.
O tempo passou rápido e sol já se punha, eu não pude evitar dizer que o amava depois de tantas atitudes como aquelas, eu o beijei sem medo, sem medo de julgamentos, pois naquele momento éramos nós em um mundo gigantesco.
Voltando para a casa as nuvens escuras anunciavam chuva, ele estava pensativo, mas não largou minha mão durante todo o caminho. Ao chegarmos ele entrou sem dizer nada, liguei as luzes que estavam um pouco fracas, eu estava feliz mesmo em meio aquele clima soturno. Resolvi prepara o jantar, servi a comida, ele comeu rapidamente e não disse nada, como sempre.
Sentamos no sofá, perguntei se poderíamos ir à casa dos meus pais no dia seguinte, olhando para TV ele disse: “tudo bem”.  Sentei próximo ao piano e apertei algumas teclas na esperança de chamar a atenção, entretanto o seu olhar ainda estava fixo na televisão, então resolvi cantarolar a minha musica preferida, mas acho que ele não deve ter escutado, como sempre.
Estava chovendo muito forte, relampejava e fazia frio, fui para o quarto e vesti aquela camisa que não me pertencia, deitei sem consegui dormir, apenas assistindo a chuva pela janela. Depois de um forte relâmpago ficamos sem energia elétrica, escutei seus passos subindo a escada, um fleche de luz surgiu no quarto, ele procurava algo.
Senti ele se sentar ao meu lado, virei para observar o que ele fazia, ele abriu o notebook e por alguns minutos parecia digitar algo, me aproximei mais um pouco dele, mas ele se afastou para que eu não pudesse ver o que estava fazendo, como sempre. Sua expressão estava séria, tentei abraçá-lo, e ele se esquivou, tentei novamente, ele não conseguiu se esquivar, então o abracei forte, mas senti como estivesse perdendo-o, fechei meus olhos e de repente nada mais senti.
Despertei.

4 comentários: