Despedida

Autora: Renilda Pacheco

Agradeço a minha querida amiga por esse lindo texto.
Ass: P.H.

Despedida


Eu nem estava acreditando no que estava vendo, quando percorri meus olhos pelo grande salão e o vi sentado aguardando para ser atendido. Um tremor percorreu minha costa e meu coração mudou o ritmo. Pensei “Não pode ser.... não é possível, que depois de tanto tempo, ele ainda tenha o poder de provocar esse tipo de sensação em mim”. Fiz um gesto para chamá-lo, mas ele não pareceu perceber. Impaciente, eu gritei alto o suficiente para chamar sua atenção. Foi então que ele me olhou e seu olhar estava diferente, não era mais um olhar de alguém que foi loucamente apaixonado, apenas um olhar carinhoso. Fiquei arrasada, mas me contive, se a vida nos levou a isso, então eu teria que aceitar. Iria aproveitar ao menos sua proximidade.
Ele ficou surpreso ao ver trabalhando no cartório, e me perguntou quanto tempo eu trabalhava ali. Eu tentei responder direito, mas eu gaguejei, falei besteira. “Droga!  Como é difícil ser eu mesma quando estou ao lado dele. Sinto-me tola, uma completa imbecil! É como se eu quisesse ser mais do que realmente sou, tentando de fazer pose, mas ele me conhece, e sei que não preciso usar máscaras com ele. ”
Ele me falou de sua família, de como sua vida estava estruturada, falou da mulher, dos filhos, netos, cachorro, gato, periquito, papagaio. “Argh! chega! Até quando vou aguentar? Preciso matar esse meu lado masoquista quando estou com ele e seguir em frente, por mais que seja sofrido. ”
Naquele momento, tive a sensação que aquele meu amor não tinha mais razão de existir, apesar de tudo o que sentíamos um pelo outro, dos beijos apaixonados, dos abraços apertados, dos olhares de cumplicidade, do toque nas mãos, das despedidas, das reconciliações, das despedidas novamente. Ele pareceu superar e seguiu em frente. “Porque não consigo fazer o mesmo? ” Meu coração, ainda com taquicardia, responde por mim, e quando conheço qualquer outro homem, por mais interessante que seja, quando o mesmo abre a boca, não consigo evitar as comparações, e logo penso: “Que homem rude, ignorante, sem cultura! Será que nessa cidade não tem outro igual a ele? Que saiba como uma mulher gosta de ser tratada? ”

Ah! Mas eu pedi por isso, pelo meu eterno medo de ser feliz, sempre sofrendo por antecipação.... Finalmente, ele me olhou e perguntou como estava minha vida. Dei um sorriso forçado, usando o pouco talento que eu tenho para atriz e respondi que estava tudo bem. Só não entrei em detalhes, porque eu precisaria ser a Fernanda Montenegro para fingir tão bem assim. Nos despedimos amigavelmente, eu não tinha ideia, mas seria a última vez que eu o veria. Fiquei estática por um momento, vendo ele ser chamado para ser atendido, meu amor passou por mim, e eu o vi ir embora. Uma amiga que estivera o tempo todo ao meu lado comentou: “O que foi aquilo? Parece que vocês dois estavam em outro planeta”, ela estava certa, estávamos no nosso mundo.

4 comentários:

  1. Eu simplesmente A M E I esse conto. Escreva mais porque eu já quero ler outros. Parabéns! De verdade.

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  2. Obrigada, Rafael. Vindo de você, me sinto lisonjeada de verdade. Mas quero agradecer ao cara mais talentoso que conheci nos últimos anos, meu amigo Paulo Herculano.

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  4. Quero ler mais!!!! Que Delicadeza na forma de escrever! Gostei muito!

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