Declarações desconcertantes

Autor: Paulo Herculano


Declarações desconcertantes




Não podia passar daquele dia. Eu tinha que falar. No ônibus, a caminho de casa, com meu coração disparado e com os dedos trêmulos digitei a mensagem, nela escrevi que precisava falar com ele o quanto antes, para minha surpresa a resposta veio de imediato, ele pareceu um pouco preocupado e quis saber logo sobre o que se tratava, entretanto, eu não poderia dizer o que eu queria por mensagem, eu tinha que falar pessoalmente, por isso relutei em contar apesar da insistência dele, e devido a minha resistência ele se aborreceu, embora ele não tivesse confirmado que iria, deixei claro que o esperaria em um dos bancos da praça central.
Ao chegar em casa, entrei no quarto e ainda tentei dormir, mas não conseguia, me assustava o fato dele estar chateado comigo, para mim isso significava que nossa conversa não seria boa, meu coração ainda estava batendo muito forte, o nervosismo e a ansiedade eram inevitáveis. Pensei em desistir várias vezes, porém isso seria prolongar minha agonia. Então me preparei para conversar com ele, entreguei minhas orações a Deus, e com toda fé, eu fui encontrá-lo.
Cheguei a praça as cinco e meia, o sol ainda se fazia presente de modo mais brando, o gramado bem vivo e as raras flores deixavam o lugar bem agradável, sentei em um dos bancos debaixo da copa de uma árvore, novamente escrevi uma mensagem avisando que eu havia chegado, ele não respondeu, mesmo assim decidi esperar. Na minha mente passavam um milhão de coisas, entre lembranças e o que poderia ocorrer.
Depois de alguns minutos ele finalmente chegou, estava um pouco ansioso também, mas quando olhou para mim esboçou um sorriso e se sentou em um banco ao lado do eu estava, desta forma não nos encararmos. Então ele começou me indagando sobre o misterioso assunto, eu tremi por dentro, porém me sentia mais seguro do que pela manhã, não havia como voltar a atrás agora, eu tinha que falar.
- Eu vou ser bem direto, eu... eu acabei gostando de você.
Neste momento minhas mãos inquietas e o silêncio deixavam o clima mais tenso, pois ele não dizia nada e eu não tinha coragem de olhar para o rosto dele, de repente ele falou e quebrou o silêncio.
- Eu estou surpreso... eu realmente não esperava.
Eu me virei para olhá-lo, pois quem ficou surpreso fui eu. Para mim, ele sabia de tudo, eu apenas precisava contar. O olhar dele não me reprimia, pelo contrário, era terno e o sorriso dele ficou ainda mais belo naquele instante. Desconcertado, fez um breve silêncio, disse para mim que não sabia o que dizer, que realmente não esperava por isso, e então lançou uma sequência de elogios dos quais só me recordo: inteligente e gentil. Quando percebi que ele não falaria mais nada, continuei:
- Eu sei que talvez você já tenha alguém e eu respeito isso, então estou te contando porque é uma maneira de resolver isso para mim, de colocar um ponto final no que estou sentindo, não estou lhe pedindo nada, só queria que você soubesse. Por isso, não contei nada por mensagem ou liguei, eu preferia contar pessoalmente, em nenhum momento eu quis te irritar.
Agora ele parecia ainda mais desconcertado, talvez tenha percebido que o modo como me tratou mais cedo não condizia com a intenção da conversa, novamente ele disse não saber o que dizer, pois nunca passara por uma situação dessa, então o silêncio reinou de novo, contudo eu já estava cansado de esperar que ele disse algo, afinal ele não precisava dizer nada, era eu queria dizer que gostava dele, e já havia feito.
Toquei no ombro dele como sinal para irmos embora, caminhamos juntos por alguns minutos, ainda sem dizer nada, me virei para ele, dei um breve sorriso e segui em direção à rua. Eu precisava fazer isso, não por ele, mas por mim, caso eu não fizesse eu perpetuaria esse sentimento, o que me ocasionaria sofrimento, e eu não podia aceitar isso.
Algumas ruas depois, ouvi alguém correndo, olhei para atrás e vi ele vindo na minha direção, não tive tempo de reação, um abraço me envolveu estalando meus ossos, de repente comecei a lagrimar, não sei explicar o porquê, mas as lágrimas caiam sem controle, deslizavam do meu rosto e terminavam no ombro dele, ele me olhou nos olhos e disse:
- Eu amo outra pessoa e você sabe, mas gosto de você e da sua companhia.
- Eu sei, e obrigado, só te peço uma coisa não comente isso com ninguém.
- Não se preocupe, será o nosso segredo. Depois disso ele seguiu o caminho dele e voltei para o meu.
Não sei bem, mas talvez esteja sendo imaturo em dizer, que eu o amava, não poderia dizer a ele com essas palavras, pelo menos para mim, o impacto que elas provocam é gigantesco, contudo estou feliz, agora que ele sabe desse sentimento.

As vezes não precisamos estar junto das pessoas que amamos, basta apenas que elas saibam o que sentimos.

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