Cordel: O rio claro de Rudá

O rio claro de Rudá


É sobre uma épica história
Que agora vamos tratar
Foi no místico amor
Que tudo deu a começar
Amor entre o rio e o sol
Que assim, Rudá, fez chegar.

Eram os primeiros raios
Daquele dia tão abençoado
O Cacique dos Tucuju
Na praia estava despreocupado
Viu vindo parar na praia
O recém-nascido desacordado.

O garoto parecia índio
Com os olhos de rio claro
Criado como filho do Cacique
Cresceu forte e com dons raros
Podia ver noite como dia
Pra caça tinha bom faro.

Não só de caça era bom,
Cresceu e liderou batalhas
Era valente e honrado
Por bravura merecia medalhas
Sua flecha era afiada
Pra ele não existia falhas

No coração sentia a falta
Amada que tanto esperada
Ainda não havia aparecido
Ainda não fora encontrada
Mal sabia nobre guerreiro
Ela estava apenas calada.

Mas calma pedimos a vocês
Porque o amor não é fácil
Se a história assim fosse
Todo desenrolar seria ágil
Era Jaci, irmã de Rudá
Temos então um amor frágil.

Mas até da filha
O Cacique matinha o segredo
Que não contou a Rudá
Por cuidado e por medo
A sua verdadeira origem
Que do rio era degredo.

Jaci ainda era comprometida
Com o índio guerreiro Acir
E pela frieza da noiva
Acir começou a deduzir
Que o olhar de Jaci
Rudá e Acir sabia distinguir.

Jaci começou a insinuar
Seus sentimentos por Rudá
Mas respeitoso como só ele
A relação não quis aprofundar
O segredo o Cacique mantinha
E tudo veio a piorar.

Jaci certa do que sentia
Desfez noivado com o guerreiro
Furioso ele jurou vingança
Sendo sobrinho do curandeiro
Ouviu falar do monstro
Que da vida era ceifeiro

Acir imergido na ira
Com inimigo foi propor
Ter uma aliança malquista
Só pela falta de amor
E uma besta do rio
Despertou no ódio, o horror.

Jaci em sua oca pensava:
Como tal coisa sentia
Romance entre irmãos, jamais!
O padre já dizia
E ainda enfatizava
Para o céu não iria.

Dentro de Rudá crescia
Aquele sentimento não permitido
Um forte amor impossível
No coração estava reprimido
Pois se ele pecasse
Só lhe restaria o castigo.

E no meio da noite
A tribo da outra ilha
Denominados índios Galibis
Em sua feroz matilha
Vinham rápido pela floresta
E pelo rio uma esquadrilha.

Levantaram-se então os guerreiros
Pela tribo Tucuju lutar
Os bravos Tucuju meus caros
Fizeram a batalha esquentar
Pois não eram fracos
Estavam dispostos a ferir e sangrar

Quase amanhecendo o dia
Eis que surgia a besta
Saída do rio por Acir
Que já fazia festa
Pela derrota de Rudá
Que pra ele, estava certa.

Partiram pra longe os Galibis
Agora quase todos derrotados
Então só restava o Acir
Em seu monstro montado
Uma mistura de cobra e Jacaré
O índio tinha controlado

Entrou na água então
Rudá nobre e valente
Sobre as ordens de Acir
Jamais seria condescendente
Pegou sua lança afiada
Nadando em velocidade surpreendente

A besta mal podia ver
Quando Rudá lhe atingia
Com toda movimentação
Acir o controle perdia
Com uma abocanhada da fera
Aos mortos foi fazer companhia.

A tribo ainda ameaçada
Gritou quando golpe fatal
Rudá fincou no pescoço
Acabando de vez com animal
Ao afundar na água
Marcou Rudá com veneno mortal

Ele chegou na praia
Ainda foi socorrido
Mas o pajé disse
Não poder curar o ferido
Jaci caiu no chão
Chorou com o coração partido

Só então o Cacique
O segredo finalmente revelou
Foi aí que Jaci
Com um beijo selou
O amor por Rudá
Naquele momento eternizou

Levando-o rio adentro
Acompanhou o corpo do amado
Afundou no rio com lágrimas
Sumiu junto ao amor velado
O amor de Jaci e Rudá
Aquele rio, deixou iluminado.


Autor: Paulo Herculano

Nenhum comentário:

Postar um comentário